quarta-feira, 14 de março de 2012

A utopia líbia e o feroz Imperialismo (III)

O imperialismo, pela sua própria natureza, não pode dizer a verdade: "Nós somos um pequeno grupo de bandidos e ladrões! E queremos assaltar as pessoas, qualquer que seja o país. E iremos matar um monte dessas pessoas e a classe trabalhadora no nosso país deve lutar por nós para que nós fiquemos com o dinheiro".
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E David Cameron disse: "Não permitiremos que a hipocrisia dos Direitos Humanos impeça a prisão destes ladrões".
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A Líbia ofereceu muito ao seu povo, você olha para qualquer índice, a expectativa de vida, o nível de escolaridade, as realizações na saúde, a habitação, para qualquer coisa que você queira.
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A Líbia é provavelmente o único país na África que não tem favelas.
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O tipo de democracia que o imperialismo estava tentando levar na ponta de um míssil Tomahawk.
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A África sofrerá muito porque não terá o grande patrono que representava o regime líbio de Muamar Qaddafi. O Banco Central Africano, o Banco Africano de Reservas e todas as outras instituições.
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A Líbia tinha 40, 50 bilhões de dólares reservados para estes projetos, para libertar a África das garras do imperialismo estadunidense, britânico e francês. E foi esse um dos motivos pelo qual eles confiscaram esse dinheiro.
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Este vídeo foi filmado, editado e legendado por © Harry Fear (http://HarryFear.tv)


A Líbia a África e o Imperialismo:
Dan Glazebrook, Lizzie Phelan e Harpal Brar

Transcrição do vídeo para a língua portuguesa

Parte III

Harpal Brar
(de 0:28:43 a 0:58:28)


Vou começar por onde o Dan e a Lizzie pararam, vou tentar não repetir a coisas que eles disseram.
Esta velha piada de um jornalista burguês que disse que nunca lia os livros que resenhava -- vai que as suas idéias pudessem mudar!
É exatamente o que ocorre com o jornalismo burguês. Eles não permitem que uma boa intervenção seja "estragada" com a referência aos fatos. Fatos não são coisas sobre as quais eles comentem. Os fatos representam a morte de toda campanha por eles empreendida e a guerra contra a Líbia foi construída em cima de mentiras. O imperialismo, pela sua própria natureza, não pode dizer a verdade. Quero dizer, como é que você chega para os trabalhadores e diz "Nós somos um pequeno grupo de bandidos e ladrões! E queremos assaltar as pessoas e queremos assaltar as pessoas de outros países, sejam elas da Líbia Iraque, Afeganistão, Palestina, Yugoslávia, qualquer que seja o país. E iremos matar um monte dessas pessoas e as 'crianças' da classe trabalhadora no nosso país devem lutar por nós para que nós fiquemos com o dinheiro" Se você se saísse com uma frase desse tipo, se você se saísse com uma frase dessas, mesmo o trabalhador mais burro diria: "Ah, sei... não vejo nada aí que me diga respeito"
Então eles têm que construir uma verdade baseada numa campanha de mentiras, mentiras sobre a democracia, mentiras sobre liberdade, mentiras sobre Estado de Direito, etc. E, claro, a mídia faz o papel de líder da torcida.
São pessoas que não são inocentes.
Se voce observar os âncoras da BBC, ITV, da mídia privada, da mídia pública, são pessoas que estão com os bolsos cheios das migalhas que caem da mesa da pilhagem imperialista.
Eles não vão contar a verdade.
Eles recebem algo como 1/4 de milhão, meio milhão, talvez 1 milhão.
Quer dizer, a verdade vem mesmo é desse padrão de vida, o sujeito não está interessado em chegar e começar a falar sobre a verdade. Então a guerra tem sido construída sobre uma mentira: Kadafi é um ditador. Saddam Hussein era um ditador, qualquer um que você queira, Slobodan Milosevic era um ditador. Eu digo a vocês, isto não é uma continuação apenas da guerra no Iraque e no Afeganistão e na Palestina. É também a continuação da guerra na Yugoslávia. O imperialismo não dá a mínima para a cor das pessoas ou para a nacionalidade das pessoas. Só há uma coisa que é avaliada: é pelas "verdinhas", é pelo dólar que o imperialismo luta, ele luta pela exploração e superexploração. E qualquer um que tome consciência disso está na mira do imperialismo.
A democracia não está, muito simplesmente, em questão. Ele luta por dominação. Toda a história do capitalismo monopolista nos últimos 100, 110 anos é uma história de guerras no interesse da acumulação do capital. É disso que se trata.
Eu realmente não quero enumerar as grandes realizações do regime de Kadafi na Líbia a partir da revolução de setembro dos idos de 1960, naquele país.
Só o mais deliberado ignorante ou o elemento mais maligno não conhece as realizações do regime líbio. Não há um país na África que ofereça ao seu povo o padrão de vida que o governo líbio ofereceu ao longo de um período de 4 décadas. Mesmo os mais ricos reinados, como a Arabia Saudita e outros -- não dá para chamá-los de reinados. Eles são basicamente poços de petróleo, campos de petróleo com uma bandeira hasteada. Uma bandeira desenhada em Washington, Londres, Berlim ou Paris. E constituições escritas também lá, basicamente para dividir os povos árabes. Eles não tem direito a uma existência independente. O que é o Qatar como estado independente? O que é o Dubai? O que são os Emirados Árabes Unidos, etc.? Eles são povos que não pertencem realmente ao mundo árabe, mas sim ao mundo imperialista ocidental, são agentes do imperialismo naquela região.
A Líbia ofereceu muito ao seu povo, você olha para qualquer índice, você olha para a expectativa de vida, você olha para o nível de escolaridade, você olha para as realizações na saúde, você olha para a habitação, para qualquer coisa que você queira. É provavelmente o único país na África que não tem favelas.
Estive lá mas não pretendo ser um especialista. E ao contrário de Lizzie e outros camaradas que foram para lá como jornalistas à procura de fatos, eu fui com os meus camaradas mas não à procura de fatos, os fatos estavam claros para mim sentado aqui, eu realmente não precisava ir à Líbia para descobrir... Tantos os fatos sobre a vida do povo líbio, ou sobre o regime de Muammar Qaddafi, ou sobre o tipo de democracia que o imperialismo estava tentando levar na ponta de um míssil Tomahawk. Eu não precisava ir.
A razão pela qual fomos lá foi basicamente para demonstrar a nossa solidariedade ao povo líbio, e para lhes dizer que existem duas Grã-Bretanhas, assim como há duas Alemanhas, dois EUA: há a Grã-Bretanha dos imperialistas que querem saqueá-lo, que querem bombardeá-lo até à total destruição e há o imperialismo da classe trabalhadora e oprimida que quer mostrar solidariedade. Não estamos ao lado da nossa classe dominante. Os melhores elementos do movimento da classe trabalhadora britânica estão do lado dos povos oprimidos, essa era a nossa missão.
Quer dizer, estivemos lá por 2 ou 3 dias. Que fatos poderíamos ter encontrado em 2 ou 3 dias?
Sim, pudemos ver que os líbios eram felizes. Sim, pudemos ver que os empregados do hotel eram caras legais. Sim, pudemos ver as pessoas na Praça Verde. Certo, vimos muita munição usada porque as pessoas atiravam para o alto para se defender do bombardeio da Otan. Dava pra ver tudo isso. Sim, dava para ver que os mercados estavam cheios de produtos, tinha até gente que vinha da Bélgica, de Paris, iam aos mercados líbios comprar coisas porque eram mais baratas que em Paris, Bruxelas, etc. Portanto tudo ia bem, até que a Otan, obviamente, chegou.
É como a Máfia, existem 2 departamentos: um é responsável pelos explosivos e pela destruição de edifícios e o outro é o departamento de construção, que faz contratos. Então eles destruiram a Líbia para depois reconstruí-la. E há muito dinheiro para se servirem, porque pelo menos 1 bilhão em dinheiro líbio foi roubado.
Não... houve tumultos em Londres? Eu não gosto de dizer que foram tumultos, prefiro dizer que foram levantes da juventude em Londres e muitas outras cidades deste país. E David Cameron disse: "Não permitiremos que a hipocrisia dos Direitos Humanos impeça a prisão destes ladrões".
Vamos supor que essas pessoas sejam ladrões, esses jovens que roubaram um par de Nike's, sem os quais não serão considerados caras legais. Vamos dizer que sejam ladrões.
Mas o que eles são, se são ladrões? Eles são um estrito reflexo do que o imperialismo faz, numa escala gigantesca, dentro de seu próprio país e fora dele.
Se estas pessoas estão roubando só estão refletindo o estado de coisas e talvez tentando emular. Eles simplesmente não têm a sorte de poder sair por aí e confiscar a riqueza de um continente inteiro ou de outros países. Têm que se contentar em "roubar" um par de tênis, etc. Boa sorte para eles!
Se o imperialismo não consegue lhes oferecer nem a oportunidade de serem explorados num emprego, então não podem culpar as pessoas por saírem por aí roubando. Eu não chamo isso de "roubar". Eu apenas digo que eles pegam o que, por direito, é deles. E é assim que deveria ser.
A guerra na Líbia não é algo que, subitamente, aconteceu. Se você observar essa guerra, muito da discussão sobre guerra é fútil. Ou as pessoas dizem quem atacou quem primeiro, ou as pessoas dizem "Oh, Kadafi é um ditador." O que é que as pessoas têm com isso? Vamos dizer que ele seja um ditador. Porque é que isso diz respeito àqueles que não são líbios? O povo líbio é perfeitamente capaz de resolver isso. Se eles se livraram do Rei Idris porque não gostavam dele, se eles não gostarem do Kadafi, eles o expulsarão do poder. Não é esse o problema.
E desde quando diz respeito ao imperialismo decidir que um país deve ser "bem" governado? Eles não governam bem seus próprios países, porque haveriam de se meter com os líbios?
Então quando você olha para a guerra a questão imediata a fazer é sobre o caráter de classe e a substância da guerra.
Qual é o caráter de classe da guerra? Que classe está entrando em guerra e contra quem? Quais são os objetivos dessa classe? Que objetivos essa classe perseguia antes do começo da guerra? E que objetivos ela persegue durante a guerra?
O escritor alemão Clausewitz diz corretamente: "A guerra é a extensão da política através de meios mais violentos". Então, se a Inglaterra, a França, os EUA estão fazendo uma guerra contra a Líbia, a política que perseguem com esta guerra é exatamente a mesma política que eles praticaram por décadas contra a Líbia. E outros países.
Restringindo-me à Líbia no momento, qual tem sido a tentativa deles, desde a revolução de setembro da década de 60?
Derrubar Qaddafi
. Pelas razões mencionadas por Dan e Lizzie. Porque Qaddafi se tornou uma pedra no sapato. "Não está certo retirar as bases imperialistas do seu país." A Líbia não pode ter bases na Inglaterra, mas a Inglaterra tem o direito divino de ter bases na Líbia.
A Líbia não pode explorar os ingleses, mas a classe dirigente britânica acha que tem o direito de explorar, porque é o que tem feito por 350 anos.
É como se, porque o Sol se levanta no Oriente e se põe no Ocidente, fosse motivo suficiente para que o Ocidente explore o resto do mundo. E quem quiser desafiar isso, está se colocando à margem.
Então essa é a política que a Inglaterra tem praticado.
Por outro lado, qual tem sido a política do governo líbio? Alcançar um certo grau de independência. Usar a riqueza e os recursos que a Líbia tem para a melhoria do padrão de vida do povo líbio, construir a infraestrutura num país que era miserável na época de sua independência, cujo rendimento per capita era de 50 dólares por ano.
Quero ver vocês viverem com 50 dólares ao ano. 50 dólares por ano... e antes do início do bombardeio pela Otan, qual era o rendimento médio do líbio?
De acordo com o Almanaque da CIA, e a CIA não é nenhuma fã da Líbia e não tem nada de progressista, era de 16.500 dólares por ano.
16.500 dólares por ano põe a Líbia numa posição melhor do que uma enorme quantidade de pessoas vivendo nos países imperialistas, incluindo o país imperialista mais rico, os Estados Unidos da América.
Se eles são realmente humanitários e querem demonstrar as suas preocupações humanitárias, 40 milhões de estadunidenses não têm assistência médica. Não seria mais aconselhável dar-lhes o mesmo tipo de assistência médica que o governo líbio dava ao seu próprio povo?
Milhões de estadunidenses são analfabetos funcionais, eles não conseguem ler ou escrever. Não seria melhor oferecer-lhes o tipo de educação que o governo líbio, ou ainda melhor, que o governo cubano dá ao seu povo?
10% das residências nos EUA, de acordo com o Departamento de Agricultura, sofrem de insegurança alimentar. Bom, isso é um eufemismo, vivemos num mundo de eufemismos. Não se pode falar a verdade. Porque não dizem que eles têm fome? Devemos dizer "Eles sofrem de insegurança alimentar". Isso significa: eles não podem comer. 10% dos lares estadunidenses representa aproximadamente 30 a 35 milhões de pessoas.
Se eles estão realmente tão preocupados com as questões humanitárias, não deveria a caridade começar em casa? Não deveriam olhar primeiro pelo seu próprio povo? 2 milhões de pessoas nos EUA estão aprisionados. É a maior taxa de encarceramento e uma grande proporção deles é de brancos pobres e oprimidos e um número ainda maior de negros pobres.
Quando Obama foi eleito presidente Dan ficou espantado por eu ter dito que eles iam invadir mais alguém. Eu estava muito feliz quando Obama foi eleito. Basicamente por um motivo: representava, genericamente, a visão dos negros nos EUA e negros em muitos outros lugares. Os EUA só eram ruins porque nunca tinham tido um presidente negro, só eram governados por presidentes brancos. Mas depois eu vi que qualquer um que se torne presidente dos EUA passa a ser o líder do imperialismo estadunidense.
É como pedir ao policial para ser bonzinho. Ele pode até começar bonzinho quando entra na polícia, mas logo ele se torna aquilo que até o The Guardian chamaria de canalha. É simples, se você é o presidente dos EUA, não me importa o quanto você é legal, você é o líder do imperialismo estadunidense.
Então eu disse: "Uma vez que ele seja eleito, as pessoas iriam se aperceber disso na medida em que até um presidente negro manteria as coisas na mesma."
Uma coisa boa que Obama fez foi ter retirado da Casa Branca, da frente da Casa Branca, o aviso "Somente Brancos". Isto, até um certo ponto, foi uma conquista. Mas quanto ao resto, ele é -- acreditem em mim, vocês podem não concordar o quanto queiram -- ele é mais reacionário do que George W. Bush. Eu nunca imaginei que diria esta frase.
Vocês ouviram o que ele disse sobre a Palestina? Ele ficou apontando a "ameaça para a segurança de Israel". Todos aqueles mísseis mortais, as bombas nucleares vindo da Faixa de Gaza, atacando os pobres judeus em Israel.
Você fala com ele sobre a Líbia. "Lá está o ditador oprimindo o seu próprio povo". Eu imagino que ele esteja apenas se opondo porque aquele velho ditador não vai oprimir outros povos a 10.000 milhas de distância dali. É disso que Obama gosta, enquanto George W. Bush gostava de mandar pessoas para a Baía de Guantanamo.
Obama encontrou uma forma melhor: porque se enrolar com a estória de Guantanamo, quando você pode matá-los diretamente com os drones? Não é necessário lhes oferecer um julgamento, esse é o estado de direito, você envia drones, mata as pessoas e diz "Matamos terroristas".
Então são essas as pessoas que se revoltam com a "maior atrocidade cometida em solo americano" no 11 de setembro. O que você espera? Há um senador de direita nos EUA chamado Ron Paul. E ele diz numa reunião de republicanos: "O que vocês esperavam que as pessoas fizessem conosco? Nós estamos em guerra com todo o mundo!..." Ele é uma pessoa de direita... "Entramos em guerra com todos!... É só uma questão de tempo até que as pessoas entrem em guerra contra nós!..." Portanto, esta guerra que está sendo conduzida é uma guerra imperialista predatória. É uma guerra de assaltantes, é uma guerra de espoliação. É uma guerra de pilhagem, é uma guerra para saquear. Portanto é uma guerra injusta. Todas as pessoas com um mínimo de senso de justiça e alinhada com os interesses da classe trabalhadora tem a obrigação de apoiar o povo líbio que está sendo atacado como foi o povo do Iraque, da Palestina, do Afeganistão.
Esta é a visão que eu sustento no partido ao qual pertenço. Estamos abertamente do lado daqueles que estão sendo atacados pela nossa classe dominante. Perguntam-me constantemente: "Você mora neste país, você ganha o seu sustento neste país, porque você odeia este país?"
E eu respondo: "Eu não odeio. Há muitas coisas deste país das quais me orgulho. Fico muito orgulhoso pelo fato de que nossa burguesia foi a primeira a derrubar a aristocracia feudal. E ter cortado a cabeça do seu rei foi ótimo. Fico muito orgulhoso de algumas das conquistas científicas deste país. Sou muito orgulhoso pela literatura que vem sendo produzida neste país. Adoro Shakespeare, adoro Spencer, adoro Milton e inúmeros outros. Estou muito orgulhoso pelo fato de termos produzido o primeiro movimento operário na história mundial, os cartistas. E estou muito orgulhoso da greve geral de 1926. Estou muito orgulhoso pelo fato dos estivadores, durante a guerra civil na Rússia e durante a guerra de intervenção se mobilizaram e se recusaram a carregar os navios, forçando Loyd George a interromper a intervenção britânica na Russia contra os bolsheviques. Fico muito orgulhoso disso. Mas não posso ficar orgulhoso com o fato de que nosso país, por 300 anos, agiu consistentemente como algoz da liberdade de outros povos. Como trabalhador, não posso ficar orgulhoso com isso e não ficarei orgulhoso disso, não importe o que isso custe."
Portanto, quando nos revoltamos contra esta guerra, contra a nossa classe dominante, não estamos indo contra os trabalhadores, vamos contra a classe dominante deste país, que é uma classe de saqueadores que tem o sangue de milhões de pessoas nas suas mãos. Não é Qaddafi o assassino, é Cameron o assassino, é Obama o assassino, é Sarkozy o assassino. E é isso que eles são.
E a outra coisa que deve ser lembrada sobre esta questão é o papel da esquerda neste país.
Esqueçam a classe dominante. A classe dominante faz o que sabe fazer melhor: explora, oprime e é isso que ela faz, um trabalho fantástico, não precisamos nos preocupar com eles.
Mas e quanto à esquerda? O que os esquerdistas estão fazendo? Há dois pontos em que a esquerda concordou, sem pestanejar, com a classe dominante. Um deles é que o regime de Qaddafi caiu. E o segundo é que isso foi uma coisa boa, que merece ser comemorada.
Primeiro, eles estão festejando prematuramente sobre o túmulo inexistente do regime de Qaddafi. Não sou um astrólogo e não sei qual será o resultado final desta tragédia. Tenho certeza de uma... não, duas coisas. Uma delas é que o regime de Qaddafi está muito vivo e ainda conta com o apoio da grande maioria da população líbia. A segunda é que, ainda que as forças imperialistas consigam dominar o povo líbio, temporariamente, nunca conseguirão controlar a Líbia. Eles podem transformá-la numa Somália, num posto dos senhores da guerra, mas não conseguirão controlar.
As pessoas que eles estão conduzindo ao poder, temos sido constantemente alertados para isso, estão em guerra contra o "terror" desde 09/11.
Quem são realmente as pessoas que estão dirigindo o show em nome da Otan na Líbia? São os fundamentalistas. É o Grupo Combatente Islâmico Líbio-
GCIL que dirige o espetáculo. O seu líder é um tal Abdelhakim Belhadj. Abdelhakim Belhadj é um cara que combateu contra os soviéticos no Afeganistão e foi auxiliado depois pela CIA e o MI6 para formar o GCIL. Foram eles que fizeram várias tentativas de matar Qaddafi. Em determinado momento, o imperialismo achou que eles tinham ido longe demais, então capturaram-nos e enviaram-nos para a Líbia. A Líbia tinha as suas próprias razões para querer ficar com estas pessoas. Em determinado momento, no ano passado, eles foram soltos, depois de terem prometido desistir da violência e praticar uma oposição pacífica. O regime líbio foi gentil o suficiente para libertá-los. Depois que se dirigiram diretamente para Benghazi, foram recrutados pela CIA e quando Trípoli foi invadida, foi não apenas por estes... "rebeldes" da Otan, mas por dezenas de milhares de mercenários.
Falam de mercenários no lado de Qaddafi, mas Qaddafi não tinha mercenários. Dizem que todo negro líbio é um mercenário e chamam a todo trabalhador estrangeiro que trabalha na Líbia de mercenário.
É como se dissessem que alguém como eu é um mercenário, apenas porque tenho uma pele escura e porque ganho o meu sustento aqui. Então eu poderia ser facilmente descrito como mercenário. Para quem? Cameron? Outro?
Foram eles que trouxeram mercenários para o país. E trouxeram estes mercenários e adivinhem quem foi eleito o líder do comitê militar em Trípoli? Com a conivência da Otan? Com a ajuda da Otan? Não é ninguém mais senão Abdelhakim Belhadj.
Então o terrorista de ontem tornou-se o instrumento para trazer a "democracia" ao povo líbio, que está sendo assassinado, como disse muito bem Lizzie, aos milhares. Quer dizer, tenho a informação de que algo em torno de 30.000 pessoas em Trípoli morreram durante o assalto à cidade. E não conseguiram tomar completamente Trípoli, há resistência em Trípoli. E é precisamente uma das razões porque estes gentis combatentes, supostamente responsáveis por derrubar o regime de Qaddafi, não mudaram a sede do governo de Benghazi para Trípoli.
Talvez nem sejam capazes de sustentar o governo em Benghazi, porque soube que existem muitos tumultos ocorrendo em Benghazi. Há manifestações surgindo em Benghazi, zangadas, há divisões dentro do campo "rebelde", cada grupo quer a melhor parte, senão toda a Líbia, ou partes da Líbia, de forma que o CNT não consegue facilmente ser obedecido.
Há membros de uma facção de oposição que disse a este senhor Mustafa Abdul Jalil: "Se você continuar a agir desse modo, matamos você". E ele está com medo deles, ele só está ali porque há gente da Otan protegendo-o e é apenas uma questão de tempo antes que comece a matança. Portanto não haverá nenhum governo na Líbia capaz de trazer qualquer estabilidade, sem falar em prosperidade.
A Líbia era um lugar maravilhoso. E um monte de outros países naquela área irão se ressentir. Os meus colegas falaram sobre isso antes. A África sofrerá muito porque não terão o grande patrono que representava o regime líbio de Muamar Qaddafi. O Banco Central Africano, o Banco Africano de Reservas, e todas as outras instituições. A Líbia tinha 40, 50 bilhões de dólares reservados para estes projetos, para libertar a África das garras do imperialismo estadunidense, britânico e francês. E foi esse um dos motivos pelo qual eles confiscaram esse dinheiro. Que isso sirva de lição a outros povos que tem o seu dinheiro em dólares, libras e outras moedas. Retirem-no antes que seja confiscado.
Eu realmente fico muito assustado que 3.200 bilhões... 3,2 trilhões de dólares de reservas cambiais chinesas grande parte das quais está em dólar poderiam ser, facilmente, congeladas.
Chávez está certíssimo em tomar as devidas medidas para repatriar o outro de outros países de volta para a Venezuela. Porque nunca se sabe. Se você deixa o ouro nas mãos dos ladrões, não fique surpreso se de repente ele desaparecer.
Então o que está acontecendo é que a esquerda também está indo pelo mesmo caminho. E o que acontece na esquerda?
Estas são as declarações que eles fazem, assim que a guerra na Líbia irrompe. "Parem a guerra!" e fazem uma declaração denunciando a Líbia, saudando o fato da Primavera Árabe se espalhar para a Líbia, e... fazem um protesto. Adivinhem contra quem? Contra Muammar Qaddafi e sua embaixada em Londres.
Alguns dias mais tarde, tendo percebido que tinham dado um tiro no pé, voltam atrás. Mudam de tática, mas não de política. E então passam a dizer que se opõem à intervenção da Otan na Líbia, adivinhem porquê? Porque a intervenção apenas reforça a posição de Muamar Qaddafi. "O que é que há de mais terrível do que Qaddafi sair reforçado?"
Portanto, a causa da queda do regime de Muammar Qaddafi deve-se tanto ao imperialismo quanto à esquerda da "Coalisão Parem a Guerra".
Agora, muito recentemente, emitiram uma declaração basicamente saudando a derrubada do regime de Qaddafi. No website deles há alguém chamado de Sr. Jones que declarou: "Só um maluco poderia ser contra a queda de Qaddafi"
Então somos esses "malucos". Nós iremos protestar contra a queda do regime de Qaddafi, porque não há nada na queda do regime de Qaddafi para o povo líbio, para os povos africanos, para os povos oprimidos do mundo ou mesmo para a classe trabalhadora dos EUA, Inglaterra e Europa. Nós não queremos a queda desse regime.
É isso que a "Coalisão Parem a Guerra" faz e exatamente o mesmo acontece com o Partido Socialista dos Trabalhadores, eles são uns trotskistas que lutam pela "liberdade dos trabalhadores" ou algum tipo de grupo assim... Eles não lutam pela liberdade dos trabalhadores. Eles lutam na verdade pela escravidão dos trabalhadores. Eles são simplesmente veículos para fazer propaganda imperialista. É isso que eles estão fazendo. Então, para não tomar mais tempo, porque eu terei a oportunidade de voltar a falar durante os debates, esta guerra foi planejada há muito tempo atrás. Não era necessário ter uma Resolução da ONU. Se eles realmente estavam à espera da Resolução da ONU, que poderia ser ou não aprovada, como é que apenas 24 horas após a aprovação da Resolução da ONU todas as forças aéreas dos principais países da Otan, EUA, Grã-Bretanha e França são postas em ação e apenas 24 horas após a aprovação da Resolução 1973 da ONU eles despejam 110 mísseis?
Ao longo dos últimos 6 meses eles conduziram mais de 20.000 missões das quais 8.000 até 01 de setembro eram missões de ataque. Se vocês considerarem que uma única missão carrega 5, 6, 7, 8 bombas, eles devem ter despejado perto de 50.000 mísseis, bombas e explosivos sobre o povo líbio. Num país de 6,5 milhões de pessoas?... Eles soltaram todas estas bombas sobre eles.
Eles mataram, em nome do Direito de Proteger (R2P), milhares de civis. E é claro, também mataram militares.
É isto o que tem acontecido. Para começar, a guerra era ilegal, porque a própria ONU agiu ilegalmente, ao emitir uma resolução que à luz da Carta das Nações Unidas não conseguiria passar. Ela só permite aprovar resoluções para intervenção se um país representa uma ameaça à paz na região ou agride outro país, coisa que a Líbia não fez. Portanto a Resolução da ONU é ilegal, e toda a sua implementação, em cada passo, também. Era uma resolução para supostamente estabelecer uma zona aérea sem vôos, para garantir que a força aérea líbia não voasse. Mas foi transformada, logo depois, num instrumento para mudança do regime. Era isso o que eles queriam.
Se eles foram bem sucedidos ou não -- e eu espero que não -- eu não sei.
Mas por agora, a posição é que o regime líbio está resistindo intensamente. E essa resistência, na verdade, merece ser aplaudida, merece ser reconhecida. Não pensem que é um ato pequeno enfrentar o conjunto de forças aéreas dos principais países imperialistas bombardeando dia após dia ao longo de quase 7 meses.
Depois que se completaram 6 meses no dia 9 de setembro, a Otan, unilateralmente, sem voltar à ONU, em cujo nome agia, ampliou a campanha de bombardeamento por mais três meses. E o seu secretário-geral, aquele Rasmussen com cara de fascista, da Dinamarca: "Bem, veremos se depois de três meses precisaremos continuar ou não"

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