quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Memórias da eleição



LEVANTE DE MEU TAMBURETE!
Avani


          Estive na Bahia, em Seabra. Lá todo mundo é Dilma: intelectuais, participantes de um Congresso, estudantes, donas-de-casa, trabalhadores. O comércio é Dilma, os taxistas são Dilma, as crianças são Dilma. Participamos minha filha, a amiga Eli e eu de uma manifestação pró-Dilma, após uma passeata-carreata.  Na cidade, nos   disseram, é proibido falar mal de Lula. Se você pergunta para uma pessoa quem é o candidato dela, a pessoa responde assim: “Por quê? Tu vai votar contra Lula, é?” Isso cala qualquer intenção de voto em Serra.
            De lá fomos para Irecê. Lá todo mundo é Dilma, quem não é Dilma, é Lula. Lá o povo faz um sinal como se fosse uma serra serrando pescoço, e dizem assim: Serra ó! E fazem o gesto. Os taxistas todos são Dilma. E não aceitam que falem mal de Lula na frente deles, não.
            De lá fui para Piritiba. Lá os atuais governantes, vereadores e ex são todos Serra. Dizem até que por causa dessas facilidades de Lula ninguém lá quer trabalhar, todo mundo só pensa em fazer faculdade e por isso não tem mais empregadas domésticas disponíveis, pois ou estudam ou ganham bolsa-família em valor superior ao que eles pagam por serviços domésticos. Já dá para ver que pagam muito pouco, pois o bolsa-família paga em média R$ 200,00 para uma família com três filhos na escola. A opção política por Serra com esses argumentos me pareceu saudade da escravidão. Agora, trabalhador mesmo é Dilma, é Lula, a esperança do futuro. Um caminhão cheio de pessoas dos povoados vizinhos que chega a Piritiba é todo Dilma, desde o bofe, como me disseram. “É Dilma, é Lula, é gente como a gente.”
            De lá fui para Salvador, e aí então foi o máximo de felicidade e prazer ver a cidade toda com Dilma. Todo mundo lá é Dilma. Todos os taxistas são Dilma. Os trabalhadores informais são Dilma, o vendedor de sorvete é Dilma, o vendedor de água nos faróis ostenta um adesivo com o 13 colado no isopor. Na feira de artesanato em frente ao Mercado Modelo é o reduto dos eleitores de Dilma, que ostentam o 13 em suas barracas sem o menor constrangimento. Lá não se aceita falar mal de Lula, ninguém tolera.
            Soube de dois vendedores que expulsaram de suas barracas paulistas e cariocas que foram lá falar mal de Lula, falar mal de Dilma. O caso mais emblemático foi um que me foi contado pela própria protagonista sob o testemunho de todos ao redor que viram a cena e ouviram. Foi assim: uma carioca sentou-se num banquinho de plástico branco, desses que se usam atualmente, e começou uma conversa com a dona da banca de artesanato. Sem saber que estava na Bahia (como me disseram), falou assim:  “Dilma é terrorista, chefe de quadrilha”. Pra que minha gente? A dona da banca levantou-se e disse retada para a forasteira:
- A senhora faz o favor, levante desse tamburete agora. Esse tamburete é meu, e só senta quem eu quiser. E não senta nesse tamburete quem fala mal de Lula e de Dilma. A senhora está é com inveja de não ter entrado para a quadrilha dela! Não precisa comprar nada aqui, vá-se embora. Nas minhas vistas, sentada em meu tamburete, falar mal de Dilma? O que é isso?
            Essa é a Bahia de Lula.
            Quando o motorista de táxi me deixou no aeroporto de Salvador, e saiu me saudando pela janela do carro: é Dilmaaaaaaaaa!!!, eu tive a certeza absoluta, como dois e dois são quatro, que seria Dilma. E foi. Esta certeza quem me deu foi o povo da Bahia, meu povo querido. O bom filho à casa torna para refrigerar a alma.  E foi o que aconteceu comigo. Viva a Bahia! Viva o povo baiano!



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