Entrevista com Thierry Meyssan
"É a NATO que faz todo o trabalho militar, não os rebeldes"
por Silvia Cattori
Conseguimos falar com Thierry Meyssan nas horas mais escuras e trágicas para muitos líbios que se opuseram à intervenção da OTAN em 21 de Agosto de 2011 às 23h00 - em oposição à bobagem dita por Bernard-Henri Levy.
Rede Voltaire | 23 de Agosto de 2011
Silvia Cattori: Aqui tem-se o sentimento de que Tripoli está em vias de colapso. Qual é a vossa opinião?
Thierry Meyssan: Estamos encerrados no Hotel Rixos. Não se pode dizer se tudo vai afundar ou não. Mas a situação é muito tensa. Ontem à noite, no momento da oração, várias mesquitas foram trancadas. De repente, alto-falantes lançaram o apelo à insurreição. Neste momento grupos armados começaram a percorrer a cidade e a atirar para todo lado. Soubemos que a NATO trouxe um barco até as proximidades de Tripoli, do qual foram desembarcadas armas e forças especiais. Desde então as coisas vão cada vez pior.
Silvia Cattori: Trata-se de "forças especiais" estrangeiras?
Thierry Meyssan: Pode-se supor, mas não estou em condições de verificar. Mesmo que estas "forças especiais" sejam formadas por líbios todo o seu enquadramento é estrangeiro.
Silvia Cattori: Qual é a nacionalidade destas "forças especiais"?
Thierry Meyssan: São franceses e britânicos! Desde o princípio, são eles que fazem tudo.
Silvia Cattori: Como é que tudo ruiu subitamente?
Thierry Meyssan: Em 21 de Agosto, no fim do dia, um comboio de viaturas com oficiais foi atacado subitamente. Para se porem ao abrigo dos bombardeamentos os membros deste cortejo refugiaram-se no Hotel Rixos, onde reside a imprensa internacional e onde por acaso me encontro eu.
A partir deste momento o hotel Rixos está cercado. Toda a gente veste colete anti-balas e capacetes. Ouve-se atirar em todos os sentido em torno do hotel.
As forças entradas em Tripoli desde ontem não tomaram nenhum edifício em particular; elas atacaram alvos em certos lugares ao deslocarem-se. Neste momento não há nenhum edifício ocupado. A NATO bombardeia de maneira aleatória para aterrorizar sempre mais. É difícil dizer se o perigo é tão importante quanto parece. As ruas da cidade estão vazias. Toda a gente permanece encerrada na sua casa.
Estamos prisioneiros no hotel. Dito isto, há electricidade e água, não nos estamos a queixar. Os líbios sim. Agora há tiros em redor, uma batalha intensa; já há numerosos mortos e feridos em algumas horas. Mas nós somos preservados. Estamos todos reagrupados na mesquita do hotel. Você ouve tiros neste momento.
Thierry Meyssan: Sou incapaz de dizer. É um perímetro bastante grande porque há um parque em torno do hotel. Penso que se não houvesse senão os assaltantes não seria tão simples tomar Tripoli. Mas se há outras tropas da NATO com eles sim, isso muda tudo, o perigo torna-se grande.
Silvia Cattori: Nas imagens difundidas pelas televisões daqui vê-se que ao longo destes seis meses são excitados que atiram para o ar e que não parecem profissionais...
Thierry Meyssan: Viu-se com efeito bandos que se agitam e que não são formados militarmente. É pura encenação, não é realidade. A realidade é que todos os combates são travados pela NATO; e quando seu objectivo é atingido as tropas da NATO retiram-se. Então chegam pequenos grupos – vê-se de cada vez uma vintena de pessoas – mas na realidade nunca são vistos em acção. A acção são as forças da NATO.
Foi assim que se passou sempre nas cidades que foram tomadas, perdias, retomadas, reperdidas, etc... E cada ocasião são as forças da NATO que chegam em helicópteros Apaches e metralham todo o mundo. Ninguém pode resistir, no terreno, face a helicópteros Apaches que bombardeiam; é impossível. Portanto não são os rebeldes que fazem o trabalho militar, isso é anedota! É a NATO que faz tudo. Depois de eles se retirarem, então vêm "os rebeldes" fazer a figuração. É isso que você vê difundido nas cadeias de TV.
Silvia Cattori: Sabe-se quantos "rebeldes" em armas entraram em Tripoli esta noite? E se células dormentes já estavam lá?
Thierry Meyssan: Sim, com certeza, há células dormentes em Tripoli; é uma cidade com um milhão e meio de habitantes. Que haja células combatentes no interior e perfeitamente provável. Quanto aos assaltantes, mais uma vez, não sei qual é a proporção do enquadramento pelas forças da NATO. A verdadeira questão é saber quantas forças especiais já foram colocadas.
Há agora forças militares do coronel Kadafi na cidade. Elas chegaram bastante tardiamente do exterior. Os assaltantes cercam o hotel. Penso que é impossível esta noite tentarem um assalto contra o hotel.
Silvia Cattori: Houve pânico entre as pessoas que residem no hotel?
Thierry Meyssan: Sim, jornalistas residentes aqui no hotel Rixos entraram completamente em pânico. É um pânico geral.
Silvia Cattori: E você como se sente?
Thierry Meyssan: Eu tento permanecer zen nestas situações!
Silvia Cattori: Quantos jornalistas estrangeiros estão entrincheirados no hotel?
Thierry Meyssan: Eu diria entre 40 e 50.
Silvia Cattori: As pessoas ignoram que onde há jornalistas que cobrem a guerra há sempre um bom número deles que faz informação, que são agentes duplos, espiões...
Thierry Meyssan: Há espiões por toda a parte; mas penso que eles não sabem tudo.
Silvia Cattori: Diz-se aqui que o plano para evacuar os estrangeiros está pronto. Eles vão poder sair...
Thierry Meyssan: A Organização de Emigração Internacional tem um barco que está prestes a atracar no porto de Tripoli para evacuar os estrangeiros, nomeadamente a imprensa, prioritárias neste caso.
Silvia Cattori: E você o que pensa fazer?
Thierry Meyssan: Por enquanto o barco está ao largo; ele não entrou no porto. É a NATO que o impede de atracar. Quando a NATO o autorizar será feita a evacuação.
Silvia Cattori: Esta evolução vos surpreende?
Thierry Meyssan: As coisas aceleraram-se quando chegou o barco da NATO. São combatentes pertencentes às forças especiais da NATO que estão aqui no terreno e é evidente que tudo pode cair rapidamente...
Silvia Cattori: Os citadinos estão todos munidos de fuzis se diz?
Thierry Meyssan: O governo distribuiu quase dois milhões de kalachnikovs no país para assegurar a defesa frente a uma invasão estrangeira. Em Tripoli, todos os cidadãos adultos receberam uma arma e munições. Houve um treino nestes últimos meses.
Silvia Cattori: Os líbios que quisessem não estão em condições de sair para manifestarem-se contra as forças da NATO?
Thierry Meyssan: As pessoas estão paralisadas pelo medo; atira-se de toda a parte; e além disso bombardeia-se.
Silvia Cattori: Vossa posição não é fácil. Entre os jornalistas você deve ter inimigos que querem a vossa pelo por ter contraditado suas versões dos factos!
Thierry Meyssan: Sim. Já fui ameaçado por jornalistas estado-unidenses que disserem que querem matar-me. Mas a seguir apresentaram as suas desculpas... Não tenho dúvida nenhuma sobre suas intenções.
Silvia Cattori: Eles proferiram esta ameaça diante de testemunha?
Thierry Meyssan: Sim, na presença de [...].
Em meio aos ataques da OTAN em Trípoli, o presidente da Rede Voltaire também pôde se exprimir por vídeo às 2:00 da manhã. As comunicações ficaram extremamente difíceis desde então. Apesar do que a OTAN, a CNT e a mídia que os apoiam já estavam falando sobre a queda do Trípoli, a situação parece ter mudado de forma dramática.
A última mensagem de Thierry Meyssan, datada das 04:30h desta terça-feira 23 de agosto, fala de grande "vitória" dos legalistas. Segundo ele, os atacantes foram esmagados, "os mísseis solo-ar foram então lançados sobre a cidade" enquanto "a OTAN parava os bombardeios".
"Saif al-Islam, filho de Gadaffi que a imprensa informara ter sido aprisionado pelos rebeldes, surgiu seguro no Hotel Rixos e foi aplaudido pela multidão em Bab Al Azizia".
A realidade parece, mais uma vez, distanciada de sua representação midiática.
Em meio aos ataques da OTAN em Trípoli, o presidente da Rede Voltaire também pôde se exprimir por vídeo às 2:00 da manhã. As comunicações ficaram extremamente difíceis desde então. Apesar do que a OTAN, a CNT e a mídia que os apoiam já estavam falando sobre a queda do Trípoli, a situação parece ter mudado de forma dramática.
A última mensagem de Thierry Meyssan, datada das 04:30h desta terça-feira 23 de agosto, fala de grande "vitória" dos legalistas. Segundo ele, os atacantes foram esmagados, "os mísseis solo-ar foram então lançados sobre a cidade" enquanto "a OTAN parava os bombardeios".
"Saif al-Islam, filho de Gadaffi que a imprensa informara ter sido aprisionado pelos rebeldes, surgiu seguro no Hotel Rixos e foi aplaudido pela multidão em Bab Al Azizia".
A realidade parece, mais uma vez, distanciada de sua representação midiática.
Saif al-Islam apareceu na madrugada de ontem em Trípoli no meio da euforia dos seus apoiantes |
Original em:
http://www.voltairenet.org/E-a-NATO-que-faz-todo-o-trabalho
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Emergindo de meios políticos, sociais e culturais dos mais variados, os membros da Rede Voltaire identificam-se com os dez princípios enunciados em 1955 pela conferência de Bandung:
1. Respeito dos direitos fundamentais, de acordo com a Carta da ONU
2. Respeito da soberania e integridade territorial de todas as nações.
3. Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas.
4. Não-intervenção e não-ingerência nos assuntos internos de outro país. (Autodeterminação dos Povos)
5. Respeito pelo direito de cada nação defender-se, individual e colectivamente, de acordo com a Carta da ONU
6. Recusa na participação dos preparativos da defesa colectiva destinada a servir aos interesses particulares das superpotências.
7. Abstenção de todo acto ou ameaça de agressão, ou do emprego da força, contra a integridade territorial ou a independência política de outro país.
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