segunda-feira, 23 de abril de 2012

Bandidos ou revolucionários "rebeldes" da ONU?

Líbia hoje: quintal dos "bandidos-revolucionários" e da ONU

Por: Alexander Mezyaev
De: Strategic Culture Foundation, em 20/03/2012
De: Voltairenet.org, em 17/04/2012


Lynn Pascoe (à esquerda), Secretário-Geral para Assuntos Políticos, discute com membros do Conselho de Segurança, incluindo (da direita para esquerda): Susan Rice (EUA), Gerard Araud (França), Peter Wittig (Alemanha) e Mark Grant Leal (Reino Unido), antes da reunião do Conselho sobre a situação na Líbia, em 29 de fevereiro de 2012.

Pela primeira vez o Conselho de Segurança da ONU examinou os resultados da operação “Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia"-MANUL (United Nations Support Mission in Libya-UNSMIL) depois que foi criada em setembro do ano passado.

O relatório do Secretário Geral da ONU foi submetido à consideração do Conselho para convencer os seus membros de que a prorrogação das atividades da Missão era necessária. Isso é o que foi feito. O Conselho de Segurança tomou a decisão de estender o funcionamento da missão por mais um período de até 12 meses e especificou um novo mandato. Como declara, a Missão é para ajudar as autoridades líbias a definirem os requisitos e prioridades nacionais em todo o país; para promover o Estado de Direito, para monitorar e proteger os Direitos Humanos, para restabelecer a segurança pública, para combater a proliferação ilegal de todos os tipos de armas e material relacionado (mísseis superfície-ar disparados do ombro conhecidos como Sistemas Portáteis de Defesa Aérea-MANPADS são motivo de preocupação particular).

Não obstante o relatório do Secretário Geral da ONU tentasse retratar as autoridades líbias de um ponto de vista mais positivo, uma análise dos acontecimentos na Líbia não pôde ser evitada.

O novo relatório de Ban Ki-moon, contém informações sobre ações de combate das forças leais à Jamahiriya Árabe Líbia, que continuam a resistência aos ocupantes da NATO/ONU e seus colaboradores locais. A resistência ocorre nas maiores cidades: Trípoli, Bani Walid, Kufra, etc.
1 Tentando amenizar a gravidade da situação, o Secretário Geral da ONU chama as ações de combate de "escaramuças".

E não é o único absurdo no seu relatório que não clareia a compreensão sobre a situação, mas sim a torna mais complicada. Por exemplo, além das novas autoridades líbias e dos "simpatizantes do antigo regime" de repente um terceiro ator aparece – algumas "brigadas revolucionárias". Quem são eles, que áreas eles controlam, sob qual comando eles estão – o relatório não diz uma palavra sobre isso.

Mas o texto deixa claro para que esse novo ator é necessário: "as 'brigadas' revolucionárias continuam a realizar prisões de supostos partidários do antigo regime, e interrogatório, inclusive em locais que foram descobertos, bem como controlam centros de detenção conhecidos". Há "atos de graves torturas e maus-tratos perpetrados pelas brigadas, incluindo mortes sob custódia, particularmente em Trípoli, Misrata, Zintan, Gheryan".2

Agora, tudo se torna claro. As novas autoridades líbias não têm nada a ver com isso, é tudo culpa de algumas míticas "brigadas". Ainda uma outra questão brota: se as brigadas operam na própria Trípoli, o que o "governo" controla?

Ban Ki-Moon, como secretario-geral da ONU, deveria ser «o mais independente possível», mas entretanto qualificou como «catastrófico» o duplo veto da Rússia e da China contra a intervenção na Síria pelo Conselho de Segurança da ONU e propagandeou, sem verificar, os dados fantasistas e mentirosos do Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede en Londres. Na Líbia, Ban Ki-Moon garante atualmente, através da ONU, o “serviço pós-guerra da OTAN y afirma que as forças da coalizão seguiram «estritamente o marco político e jurídico estabelecido pelo Conselho de Segurança», apesar dos crimes de guerra já comprovados.

O representante especial da ONU para a Líbia Ian Martin veio da Líbia para participar na sessão do Conselho de Segurança e lançar luz sobre como está a situação no local. Seu relatório foi um não menos lastimável espetáculo. Ele também manteve que havia algumas "brigadas armadas", mas não está claro quem eram e sob qual controle elas agiam.3

O Representante Permanente da Líbia junto à ONU Abdurrahman Mohamed Shalgham foi mais claro. Ele disse diretamente que havia áreas onde o governo não conseguia estabelecer o controle. Nenhuma presença da polícia e nenhum tribunal tornam impossível para as novas autoridades serem responsáveis pelo que estava acontecendo lá. Mas de qualquer maneira Shalgham não definiu em quais partes do país aquelas áreas fora de controle do "governo" estavam situadas.

De acordo com a lei internacional quaisquer autoridades constituem um governo legal se eles controlam o território. Isso é de direito. É tacitamente reconhecido de facto que o governo deve controlar pelo menos a maior parte do país. É exatamente o que falta no caso do Conselho Nacional de Transição. Assim, os representantes têm de inventar relatórios bastante estúpidos.

As autoridades da "nova Líbia" sabem que suas cabeças podem rolar em um piscar de olhos. É por isso que o representante da Líbia na ONU disparou o alarme. Ele disse que é sabido que alguns líderes do antigo regime Qaddafi estavam tramando um golpe de Estado. "Nos últimos dias um número de células armadas foram detidas. Elas estavam conspirando para sabotar e explodir bombas em Tripoli. Agentes de Qaddafi estão enviando recursos para a Líbia para atos de sabotagem".4 Shalgham disse que havia enviado ao Conselho de Segurança e ao Tribunal Penal Internacional as cópias de conversa telefônica gravada do ex-primeiro-ministro líbio Al-Baghdadi al-Mahmoudi (que agora vive na Tunísia) pessoalmente dando instruções para iniciar atos de sabotagem.Em uma semana o atual "primeiro-ministro" líbio Abdel Rahim al-Kib dirigiu-se ao Conselho de Segurança implorando-lhe para cancelar o embargo de armas contra a Líbia.

Deixe a terra queimar sob os pés do "governo".

Para salvar o atual regime o Conselho de Segurança da ONU revogou o embargo de suprimentos de armas contra a Líbia efetivada pela cláusula 14 da Resolução N 1973, mas as cláusulas 9 e 10 da resolução 1970 (com as alterações inseridas pela Resolução 2009) continuam em vigor. Ainda assim a resistência das pessoas às recentes autoridades continua. Mas a súplica da Líbia para retornar seus recursos apreendidos pelas "democracias ocidentais" de alguma forma ficou sem resposta. A resolução apenas "instruiu" o Comitê de Sanções para supervisionar permanentemente os outros passos introduzidos pelas resoluções 1970, 1973 e 2009 concernentes apenas à Autoridade de Investimentos da Líbia e à Carteira de Investimentos Líbio-Africana. Também previa uma plausível revogação das sanções pelo Comitê mas somente quando for apropriado.5

Há uma operação especial para transferir os bandoleiros da "oposição" síria para a Líbia, conduzida sob a cobertura da Missão das Nações Unidas e de seu cabeça Ian Martin .

Uma vez que o fato se tornou conhecido6 Ian Martin tentou fazer com que pareça que não fossem militantes, mas sim "refugiados" que fugiam do regime sangrento de Bashar Assad. Mas para quem alguma vez já viu um mapa, é claro que se pode "escapar" da Síria para a Líbia apenas pela Jordânia e Israel e, em seguida, atravessando o Egito. E superar tudo isso para ter asilo garantido no país mais "livre de problemas"! Parece que essas pessoas não são refugiados, mas sim corredores de maratona.

Como se pode ver é uma outra história boba. Mas ninguém se preocupa com a autenticidade das explicações oferecidas. Desde há muito tempo as sessões do Conselho de Segurança da ONU tornaram-se exemplos de cinismo e hipocrisia, um palco mundial para propagação de mentiras para promover o apoio da opinião pública aos crimes mais sangrentos e infames.

Após a queda do Estado líbio, os mercenários muçulmentirosos da "Al-Qaeda" foram transportados para a Síria visando reeditar a mesma estratégia contra o governo de Damasco. Ante à crescente resistência síria aos bandos contratados por Hillary Obama, David Cameron, Nicolas Sarkozy, Bernard-Henri Levy e outros, torna-se agora necessário tirá-los do país e repatriá-los emergencialmente para a Líbia. Este fluxo constante de combatentes é garantido precisamente pela Missão das Nações Unidas na Líbia, dirigida por Ian Martin sob o disfarce de "Assistência aos Refugiados".

Em 9 de março, em Genebra, a Comissão Internacional de Inquérito sobre a Líbia apresentou um relatório formal na sessão do Conselho dos Direitos Humanos. O seu presidente Philippe Kirsch (ex-chefe do Tribunal Penal Internacional) disse que crimes contra a humanidade e crimes de guerra foram cometidos na Líbia. Ele disse que era necessário conduzir uma investigação adicional sobre as atividades da OTAN no país e também das circunstâncias das mortes de Muammar Qaddafi e de seu filho Mouatassim.

O representante da Rússia no Conselho de Direitos Humanos da ONU qualificou o relatório de "não equilibrado o suficiente". É uma interpretação surpreendentemente diplomática.

É fato bem conhecido e documentado que múltiplos crimes foram cometidos como resultado das operações de combate da Otan na Líbia. Pode-se recordar os bombardeios de 9 de Agosto de 2011 sobre Zlitan, que causaram a morte de mais de 80 pessoas, incluindo 30 crianças. Ou os ataques contra o centro de TV em Trípoli em julho de 2011.
Inexplicavelmente estes e muitos outros eventos (os mais significativos) de vítimas humanas sob as bombas da NATO nem sequer são mencionados no relatório da Comissão.

Não obstante o relatório contenha uma seção especial dedicada à morte de Muammar Gaddafi e seu filho Mouatassim, os advogados parecem tirar conclusões estranhas. A Comissão insiste que embora tenha feito muitos pedidos, que não recebeu qualquer relatório de autópsia, mas apenas imagens do corpo, que não permitem determinar a causa da morte. Isso possibilitou uma conclusão de que "a Comissão tem sido incapaz de confirmar a morte de Muammar Gaddafi como um homicídio ilegal."7

Os membros da Comissão, advogados proeminentes, fingem ser principiantes em questões legais que nunca viram vídeos de Qaddafi sendo humilhado, nem o testemunho de seus assassinos. O fato criticamente fundamental de que um preso foi destituído da vida passou a ser de nenhum significado jurídico para advogados experientes.

As deliberações do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação na Líbia em março deste ano e os resultados da investigação conduzida pela Comissão das Nações Unidas de inquérito sobre a Líbia testemunham que um plano para converter a Líbia em uma "zona de penumbra" da cena política mundial está em andamento.

As tentativas são realizadas para torná-la uma espécie de simbiose entre o Iraque e a Somália, um lugar de descontrolado "alastramento" de armas, livre bombeamento de petróleo e treinamento de militantes para novas revoluções.

Mas até que a resistência das forças da Jamahiriya Líbia não esteja quebrada esse plano pode ser frustrado.



Notas:
1 Relatório do Secretário-Geral sobre a Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia // Documento da ONU nº S/2012/129 de 01 de março de 2012, parágrafos 9-12.
2 Idem, parágrafo 24.
3 Relatório de Ian Martin na 6728ª sessão do Conselho de Segurança da ONU em 29 de fevereiro de 2012 // Documento da ONU nº S/PV.6728, página 3.
4 Relatório de M. Shalgham, representante permanente da Líbia na ONU, na 6728ª sessão do Conselho de Segurança, em 29 de fevereiro de 2012 // Documento da ONU nº S/PV.6728, páginas 8-9.
5 Resolução nº 2040 (2012) do Conselho de Segurança da ONU, 12 de março de 2012, item nº 9.
6 Por exemplo, o Sr. Vitaly I. Churkin, Representante Permanente da Federação Russa na ONU, disse na sessão do Conselho de Segurança em 7 de março: "
Em segundo lugar, temos manifestado preocupação com relação à proliferação descontrolada de armas líbias na região. Entretanto, não são apenas armas que estão indo para o exterior. Há informações de que há um centro de treinamento especial na Líbia, apoiado pelas autoridades, para os assim chamados sírios revolucionários. Seus cadetes estão sendo enviados para a Síria para atacar o Governo legítimo. Isso é totalmente inaceitável por quaisquer pretextos legítimos. Esta ação está solapando a estabilidade no Oriente Médio.". (Documento da ONU nº S/PV.6731, página 8).
7 Relatório da Comissão Internacional de Inquérito sobre a Líbia // Documento da ONU nº A/HRC/19/68, parágrafos 33-34.


Documentos produzidos pela ONU tentando justificar e legitimar suas ações de invasão, bombardeio, genocídio e destruição da Líbia e a instalação do governo-títere e do caos naquele ex-país soberano e independente, belo, pacífico e próspero:

Documento S/PV.6728: reunião do Conselho de Segurança da ONU, realizada em 29/Fev/2012, com relatos sobre a situação atual na Líbia por Ian Martin (Representante Especial do Secretário-Geral da ONU e Chefe da Missão de Apoio da ONU na Líbia) e também por Abdurrahman Mohamed Shalgham (Representante Permanente da Líbia na ONU).
Versões em inglês e espanhol.

Documento S/2012/129, de 01/Mar/2012, do Conselho de Segurança da ONU: Relatório do Secretário-Geral da ONU sobre a Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia
Versões em inglês e espanhol.

Documento S/PV.6731, de 07/Mar/2012, do Conselho de Segurança da ONU, relata a 6731ª sessão do Conselho onde foi apresentado e discutido o Relatório do Secretário-Geral da ONU sobre a Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (S/2012/129) e a situação atual naquele país.
Versões em inglês e espanhol.

Documento A/HRC/19/68, de 08/Mar/2012, do Conselho de Direitos Humanos da ONU: relatório da Comissão Internacional de Inquérito na Líbia
Versão em inglês.doc e inglês.pdf.

Anexo IV do documento A/HRC/19/68, de 08/Mar/2012, do Conselho de Direitos Humanos da ONU: Imagens de satélite e o conflito na Líbia.
Versão em inglês.pdf

Documento S/RES/2040 (2012), de 12/Mar/12, do Conselho de Segurança da ONU, relata a 6733ª sessão do Conselho, que institui a Resolução 2040 (2012) prorrogando o mandato da UNSMIL por mais um ano, suspendendo o embargo de armas ao governo líbio, liberando alguma parte dos US$bilhões em ativos da Líbia congelados...
Versões em inglês e espanhol.



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