segunda-feira, 5 de março de 2012

Aniquilar a Jamahiriya Socialista Líbia

Reflexões
A "Jamahiriya" versus a "Mudança de Regime": um Movimento de contestação ou uma Rede de contestadores?
Por: Julien Teil
Do: The Humanitarian War


A estratégia de “mudança de regime” – aparece de maneira evidente como um componente indispensável essencial da guerra conduzida pela Otan na Líbia.
O apoio popular do qual se beneficia o regime da Jamahiriya Árabe Líbia provém em grande parte dos benefícios econômicos e sociais que promove assim como do sistema tribal para o qual a redistribuição da riqueza do petróleo era uma garantia de unidade nacional.
Tratava-se portanto de uma sociedade pensada como orgânica e cujos sujeitos ou cidadãos deviam solidarizar-se, corporizar-se com este "governo das massas" (tradução de Jamahiriya).
A fim de implodir a Líbia, a realidade deste sistema político foi deliberadamente escurecida pelos meios de comunicação ocidentais e entre os líbios "insurgentes".


Aprenda com a Líbia.

A Jamahiriya poderia ter sido apresentada de maneira honesta pelos especialistas, sociólogos e jornalistas durante o conflito que começou no final de fevereiro na Líbia. Mas acontece que os benefícios de sua estrutura assim como a sua eficiência econômica permitiu não apenas a manutenção da Líbia no ranking entre os mais poderosos fundos de riqueza soberana (a Líbia era o 12º maior), mas também o seu apoio para o desenvolvimento da África. Ora, é precisamente este último ponto que os poderes reunidos na NATO viram com maus olhos pois constituía um grande concorrente na África, terra de conquista para o Ocidente desde há séculos.
Leia o original
Desde 2008, o Congressional Research Service (Centro de Pesquisa do Congresso dos EUA) emite algumas reservas sobre as intenções apresentadas pela Jamahiriya. Além de uma simples crítica, estes comentários anunciaram já uma forma de ingerência que pretendia utilizar os grupos de oposição interna na Líbia para derrubar o regime de Muammar Gaddafi. A primeira coisa que foi criticada contra essa organização política foi seu fundamento mesmo e definido pelo Serviço de Pesquisa Congressional como "A autoridade do povo". Por outro lado as "propostas para a dissolução dos ministérios de estado e para a distribuição de renda”, perfeitamente socialistas, foi apresentado como questionável.

Os trunfos internos da mudança de regime.
No mesmo documento, publicado pela primeira vez em 2008 e em seguida atualizado em 25 de fevereiro de 2011 - o dia do lançamento da estratégia diplomática contra a Jamahiriya Líbia no Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas pelo tríptico UN Watch (Vigia da ONU, uma ONG filiada ao Comitê Judaico Americano), Liga Líbia dos Direitos Humanos e National Endowment for Democracy (Fundo Nacional para a Democracia, uma organização criada e financiada pelo Congresso dos EEUU) – são apresentados os grupos de oposição interna na Líbia: de um lado os Exilados e de outro a Irmandade Muçulmana (Muslim Brotherhood) e o LIFG (Grupo Islâmico Combatente da Líbia). Mas os representantes dessas três entidades, através da National Endowment for Democracy já são aliados do Departamento de Estado dos EUA.
Leia o original
No entanto, no documento do Congressional Research Service publicado em 2008, o Grupo de Combate Islâmico da Líbia é designado como um grupo terrorista desde dezembro de 2004, os ativos do ramo EUA foram congelados pelo Decreto Presidencial 13224 em setembro de 2001. Além disso, para o Departamento de Estado dos EUA e numerosos  especialistas, as ligações entre a Al Qaeda e o Grupo Islâmico Combatente da Líbia estão além de qualquer dúvida. É no entanto particularmente nos representantes desta organização que os países membros da OTAN vão se apoiar para sustentar a mudança de regime na Líbia em nome do "crescimento e desenvolvimento das instituições democráticas no mundo”, mandato oficial da NED (National Endowment for Democracy).

A liquidação da Jamahiriya.
A Jamahiriya Árabe Líbia era, portanto, um regime socialista que excluía as várias formas de extremismo. Este projeto socialista ambicionava uma redistribuição de riqueza à qual alguns membros do regime ferozmente se opunham. Em primeiro lugar Mahmoud Jibril, que havia sido nomeado por Saif al-Islam Qaddafi para modernizar e abrir a economia líbia à internacional. Mas Mahmoud Jibril já havia, antes dos acontecimentos de fevereiro, se encontrado com Bernard Henri-Levy várias vezes para desenvolver o projeto de formação do Conselho Nacional de Transição. Além disso, durante as discussões com ex-funcionários de Mahmoud Jibril, eles nos haviam expressado a opinião dele quanto ao projeto de redistribuição das riquezas e da dissolução dos ministérios: para ele, esse projeto era "louco". Na verdade, ele não acreditava de forma alguma na capacidade do povo líbio de dispor de tais "privilégios" e, portanto, de determinar seu próprio destino.
Conferência Nacional da Oposição Líbia - Junho de 2005 - Londres
Ao contrário de outros membros do Conselho Nacional de Transição, Jibril não estava presente em Junho de 1994 na conferência Líbia pós-Kadafi da CSIS (Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais) nem na da Conferência Nacional da Oposição Líbia realizada em Londres em 2005 e que formalizou a criação oficiosa do CNT. Ele era então um recém-chegado no processo de federação de uma rede de manifestantes protestadores já iniciada em 1994. Mas seu papel não foi menos importante, uma vez que contribuiu de maneira eficaz para o reconhecimento de um governo ilegítimo pelas instituições internacionais.
O assim chamado "movimento de protesto" líbio é portanto na realidade uma rede de manifestantes que encontrou apoio considerável entre os países da coligação da Aliança. Esta rede, além de ser assessorada pela NATO, também seguiu as instruções fornecidas pela Aliança para implodir a Jamahiriya Árabe Líbia. Uma implosão cujo método era destruir todos os ganhos econômicos e sociais da sociedade orgânica, a fim de destruir a identidade cultural. Esta identidade, indestrutível, baseia-se em grande parte do sistema tribal, em si uma garantia da unidade nacional.
Não é, portanto, surpreendente ter visto o CNT e seus aliados ocidentais insistirem sobre a característica não-tribal da "Nova Líbia" (ver abaixo).

Bernard-Henri Lévy entre os "rebeldes" na Líbia com um slogan em segundo plano (veja abaixo)
Slogan de propaganda dos "Rebeldes": "Nenhum sistema tribal mais. Nós somos uma grande tribo."



Nenhum comentário:

Postar um comentário