quinta-feira, 21 de outubro de 2010

-- Madurera!... Madurera!... Foi p’r’os infernos!... Foi p’r’os infernos!...

  Trecho do conto O burrinho pedrês, na página 57 da 31ª edição do livro Sagarana, do escritor Guimarães Rosa, editado pela Nova Fronteira, em 1984:

...
-- Às vezes vêem coisas dessas, que a gente não sabe, Raymundão.
-- Isso, agora, eu acredito, seô Major. Sei de um caso que se passou, há muitos anos, contado por meu pai, que quando moço foi campeiro de um tal Leôncio Madurera, no sertão. Leôncio Madurera era um homem herodes, que vendia o gado e depois mandava cercar os boiadeiros na estrada, para matar e tornar a tomar os bois. Pois meu pai contava que, quando ele morreu, e os parentes estavam fazendo quarto ao corpo, as vacas de leite começaram a berrar feio, de repente, no curral. Coisa que o garrote preso urrava:
-- Madurera!...  Madurera!...
E as vacas respondiam, caminhando:
-- Foi p’r’os infernos!... Foi p’r’os infernos!...
... Tiveram de soltar tudo e de enxotar para o pasto, porque eles não queriam sair de de-perto da casa. E meu pai contou que, de longe, a gente ainda escutava a maldição deles, que subiam o caminho do morro, sem parar de berrar:
-- Madurera!...  Madurera!... 
-- Foi p’r’os infernos!... Foi p’r’os infernos!...
... Arrepia as costas, mesmo para se contar...
-- Medonho, Raymundão.
-- Medonho, Seô Major.
...


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